sábado, janeiro 28, 2012

Um ver por todas


Uma vez na voz de um poeta
De corpo sem cor
Calças de ganga a balouçarem
Do mais próximo uivo, disse –lhe
Que o queria ser
Do seu estilo a paisana
Nos zanpunganas  tosco
Ronco dos deuses de fato e gravata

Eu um gato pingado
Numa missão impossível de mafurra adormecendo o dia
A universidade da vida sem faros
Preços sem aprecos

quarta-feira, dezembro 28, 2011

As coisas



Divido as palavras em dois
Propalando os suspiros
A cor das coisas
É um  húmus completo
De várias asas

sexta-feira, dezembro 23, 2011

Dia da cidade



O dia nasceu virgem, a cidade se pintava para gritar pelo seu quadragésimo terceiro  aniversario  (43º ) desde que assim o foi declarado, pelas convenções internacionalíssimas, das vozes dos que nos governavam por estas terras do norte. Ainda ao ensaio do sol, do longo e sombrio quintal da casa dos meus pais, os sons da banda militar já soavam todos sinfonicamente, convidativos, abarcando para si, crianças, adolescentes, jovens, muthianas, passarinhos, vendedores de rua, etc. Era de conhecimento geral que a banda era da Academia Militar que se instalava no bairro militar, nas redondezas da cidade de Nampula; confundia-se com facilidade as suas proveniências, dado que este espalhava-se aos quatro ventos. As baterias , empunhando entre os vários instrumentos que fazem parte da banda.
Vesti-me do uniforme de camisa azul-ciano, e uma calça azul escura, enchendo o meu corpanzil em apertadíssimas cozeduras do alfaiate da zona. Penteado, sapatos lustrosos, meias até ao meio das pernas, eram assim as instruções da minha avô, deixadas no dia anterior.” Não me facas vergonhas lá ouviu?”. O frio agressivo de Agosto que se fazia presente como uma lâmina de barbear, cortava a sangue frio os desprotegidos. Caminhei solto de abrigos, sozinho, pelo mesmo caminho,  senhoras já se faziam aos mercados e pequenas machambinhas que por ali abafavam as marcas da cacimba do frio, os pintainhos já piavam, o mercado renascia, as galinhas já esgravatavam o chão húmido, deitada pela cacimba da longa madrugada.
Próximo da praça dos heróis moçambicanos, que acolhiam com pompa as festividades notórias da cidade e do país, uma roda   de barracas, sem nomes,  alias com nomes simplesmente de barracas fulanos, rodeavam o honrado  espaço, onde um monumento, que continha algumas escritas, fazia da praça um local sagrado e puro, notava-se estranhamente, não estranhamente, um grupo de bêbados, homens com agaah maísculo, ainda testemunhavam a sua masculinidade, e o vencimento que tinha caído na conta bancária, mostrando como lhe vale a maçada de trabalhar duramente trinta dias, exibindo quão o dinheiro é seu, deixando a mercê, a pão e água a numerosa família de oito filhos, lá em casa. Ignorei os abusos e comentários.
Junto a praça , me ajuntava com os meus colegas, todos em uniformes engomadíssimos, sem nódoas, testemunhando a passagem do ferro de engomar, sorridentes, transparecendo a eficácia da mulala1, prontos para cantarolar e acenar pequenas bandeiras, que um grupo de senhoras , gordas e magras, maioria delas magras, dessas que igualam, a parte de trás a de frente, os distribuía carinhosamente, ao mesmo tempo que faziam brilhar as cores das suas capulanas, fazendo um autêntico e original arco-íris, lenços a mistura não podia faltar, isto dignifica a mulher moçambicana, tanto que se diga; enquanto se aguardava, anciosamente, pela chegada de altas individualidades do estado, alguns políticos, alunos de outras escolas, os jovens da OJM, as senhoras da OMM, e alguns convidados que se vinham testemunhar da aplicação dos avançados investimentos dos corpos financeiros internacionalíssimos, que anualmente drenam avultadas somas de dinheiro, aos governos provinciais e distritais, para que estes ponham em prática os seus planos de acção, os planos quinquenais, e a agenda do governo, para que deste modo possam colmatar as enfermidades, tantos artifiais como naturais, que esvaziam de forma estonteante os discursos politicamente correctos.
Minutos depois, enquanto ensaiávamos as canções e os gestos, para que nada pudesse falhar aos olhos de altas entidades do estado; uma caravana chegava  a praça, era a banda militar, cornetas, flautas, saxofones, baterias, tambores, trompetes, preenchiam a partitura centenária e outros instrumentos equalizando som apurado. Os soldados, em fardas limpas e brilhantes, daquelas que se usam nessas ocasiões especiais, em mãos cobertas por luvas brancas, botas limpas, engraxadas, patentes, criavam inveja aos mais pequenos, fazendo-os trocar os cursos de pilotagem, medicina, engenharia para ser militar e tocar na banda. Por trás dos saldados da banda, acompanham-nos, cheios de  sombras de dúvida, empoeirados, vestidos de farrapos, cantando ao som da gigantesca orquestra militar. Um último abafo do bater das botas se fez ouvir, brummm... e soou a última cornetada.
Ao mesmo tempo que isto soava, os autocarros chegavam, em vidros fumados, sem matrículas, com algumas siglas desconhecidas: GN, PC, PA, etc, pela sirene das motorizadas dos policias de trânsito, que emprestavam o som dos pássaros da manhã fresca e ensolarada, ao mesmo tempo que estes faziam gestos ao populares que massivamente tinham se dirigido para acompanhar as festividades do dia da cidade de Nampula.
Começou  a arrumação dos presentes, para que pudesse-se dar inicio a cerimónia, a deposição de flores, a leitura dos discursos, o espaço cultural,etc. Do discurso das entidades podia-se ouvir que a cidade cresceu, hoje é uma grande referência em termos de produção agrícola, recursos mineirais, a castanha de caju, o sisal, o amendoim, as areias pesadas; que a cidade estava melhor do nunca, não há falta de emprego, que anda limpinha, isto fez-se terminar quando soou uma grande salva de palmas, mostrando o povo que estava satisfeito com os feitos do governo local, mas que também há muito que deve ser feito. Menos jantares e almoços, e mais trabalho palpável.
Já pelos bairros  as coisas iam aquecendo, os comes e bebes, os preparativos para as festividades. Enquanto isso a cidade já vestia novas imagens, a árvores podadas, a marca do xixi, foi levada a extinção, os dísticos já pairavam no ar, assumindo as realizações da cidade capital do norte, os males varridos, os muros sujos de pixotadas, escritas berrantes. Que se diga que a cidade lavava a cara.
Uma coisa triste é que as pessoas vão se tornando ricas com as suas pobrezas, que aqui quem vive são os estrangeiros. Barracas com vestes de altas marcas e altíssimos padrões, imponentes nos seus carros de último grito, que assaltavam de hábito, as ruelas da cidade nas noites de domingo, por outra mão txunando as beibes da cidade, com tudo que tem de direito.
Da cultura não se fala, as salas de cinema estão a ser tomadas de assalto pelas corporações de igrejas, fazendo disto aquele tão desejado local de culto, vendendo dúzias de esperança aos mais pobres.
Ao fim da tarde as ruas já se viam barracas ocupando os espaços, dos passeios, parques de diversão, todos as voltas desses locais, abandonando o lar, as refeições são todas lá cumpridas; vê-se frangos assados, petiscos vulgares, espetadas, sopas, refeições completas, bebidas quentes como frias, de tudo há, para todos gostos e desgostos, kabanga, cervejas, whiskeys, tentação,etc. Para uns a procura de descanso e refrescar as goelas apertadíssimas das gravatas, outros oportunidade de roubalheiras, pequenas ou grandes, outros ainda mais uma chance para sacar alguns tostões a custa do seu corpo, outros oportunidades para grandes negociatas de drogas, oficiais e não oficiais. É uma autêntica feira aberta, ao céu aberto, onde se vende de tudo e compra-se de tudo, todos se vendem como podem. O local vira uma mistura de selvajaria, mijas aqui, acolá, cigarros deixados a mercê do vento, caganitas deixados ao céu só.
É apenas o dia da cidade de nampula, naquela zona pouco nobre, outras vezes claro foi numa zona tão nobre que o sr governador se incomodava, que ordenou  do próximo ano fosse transferida para uma zona afastada e escondida. Pobre este parque que lhe foi assaltado, desta vez usaram-no e deixaram pior do que estava. Que dia da cidade que nós amamos tanto! estamos sempre juntos.

O tiro pela culatra



Atirou-se
Navegou o ar
Salpicando o glóbulos brancos
Os gritos latejaram, sons

A arma não é nossa

quinta-feira, dezembro 22, 2011

Varanda venda



E vestem elmos
Tratados em feiticeira das noites
De águas negras
Exercem sua porquice

Puxam de um lustro veludo
Tão lindo essas xixitadas
De um todo ouro
Cagada nestas praias
Que naufragam nelas

E então o Vasco da gama
Ficou menino de si
 em Maré baixa

Mas não bastam o choro dos peixes?
Família, agregados inteiros
Nas palavras de fatos e gravatas
Planos formando planos
Graduem-se
Sempre plano
Arquitectar-se suas aldrabices
Basta destas línguas bífidas